quarta-feira, 17 de abril de 2019


 Nossa Senhora da Penha, discípula fiel do Ressuscitado.
A presença de Maria, na ação pastoral de nossa Igreja Vitória e das outras dioceses capixabas, se manifesta de vários modos: seja na ação litúrgica, na devoção popular da reza do terço e nas romarias ao Convento da Penha. A Virgem da Penha é sempre um valioso estimulo no seguimento de Jesus Cristo, ela se apresenta como Virgem Mãe e Discípula fiel do Ressuscitado. Mesmo não tendo o pleno conhecimento de sua missão, a jovem de Nazaré com toda a liberdade pronunciou seu Fiat, ou seja faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1,38).
Alegres com a Ressureição de Cristo, fortalecidos com a luz do Espirito Santo, somos enviados para anunciar a Boa Nova de Jesus em nossas comunidades e paroquias. A virgem da Penha, Senhora das Alegrias Pascais, está sempre olhando para os agentes de pastorais e o povo em geral de nosso estado capixaba, intercedendo por nós junto de Deus. Nosso arcebispo emérito, Dom Silvestre Scandian, em suas homilias da Festa da Penha, fala de Maria: “como modelo de comunicação na família, no trabalho, na sociedade e na Igreja”. [1]
A devoção a Nossa Senhora da Penha, senhora das alegrias pascais, é na história da Igreja Capixaba um marco histórico e um grande apelo para o seguimento de Jesus Cristo. Precisamos fortalecer nossa ação pastoral, valorizando a vivencia de nossas comunidades eclesiais e o engajamento dos cristãos leigos e leigas. A Virgem Maria foi e sempre será um modelo de fé e compromisso com Jesus Cristo.
Conscientes de nossa missão de evangelizadores, queremos cantar nossos louvores pelas maravilhas que Deus fez e continua fazendo em favor de seus humildes servos e servas. As alegrias de Maria são as mesmas de nossas Igrejas Particulares e com a Virgem da Penha vamos proclamar o evangelho a todos os povos e nações.
Maria Santíssima, modelo de santidade e mãe espiritual de todos os agentes de pastoral, está sempre presente na ação pastoral de nossa Arquidiocese. Como discípula e missionaria, ela acolhe e medita em seu coração imaculado a Palavra de Deus. Bem-aventurado o cristão que acolhe Maria em sua casa como fez José na condição de esposo (Mt 1,24) e o Discípulo Amado como filho no momento da cruz redentora de Cristo. (Jo 19,27).


[1] LUCHI, José Pedro e SCANDIAN, Maria Noélia de Oliveira (Organização) Serenidade em meio a altas ondas. Dom Silvestre Luiz Scandian, Arcebispo de Vitória. Vitória ES: Gráfica Santo Antônio, 2013. p. 57.

sábado, 4 de agosto de 2018

Assunção de Maria



Assunção de Maria, como entender esta verdade de fé?


 Neste mês de agosto, no dia 15, nossa Igreja Católica celebra de Maria. Eu resolvi pesquisar na internet e encontrei este significado para este termo da língua portuguesa: Assunção é o substantivo feminino que indica a atitude de assumir alguma coisa. No site www.significados.com.br, fala de assunção de dívida, assunção de culpa.
O Cristo Ressuscitado subiu ao céus e espera por nós, seus discípulos na gloria de Deus. Jesus Cristo ao morrer na cruz assumiu nossos pecados, nos libertou do mal, ressuscitando deu nos vida eterna. Baseados na nossa fé no Ressuscitado, nós esperamos um dia viver no paraíso.
           Assunção de Maria deve ser compreendida em relação a Ressureição de Jesus, é o próprio Cristo que abre para nós o caminho da vida nova após a morte. “Ele padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos”; assim nós professamos nossa fé.
            Nós não podemos pensar que Maria não morreu, ela morreu sim como todos os seres humanos, até mesmo o próprio Jesus Cristo morreu. Maria, a mãe do Filho de Deus, foi preservada do pecado original e assumida, isto é assunta ao paraíso celeste pelo Redentor da humanidade, que é seu divino Filho, Jesus. Nós também seremos assumidos por Deus na ressureição da carne e na vida eterna. Amém.

Padre Ermindo Rapozo de Assis



sábado, 21 de julho de 2018

A Devoção Mariana e a Espiritualidade do Prado





            Estudando o VD (Verdadeiro Discípulo) na primeira formação aqui no estado do Espirito Santo, encontrei poucas citações que falam da Bem-aventurada Virgem Maria. Nos escritos bíblicos, também encontramos poucos textos que falam da Mãe de Jesus, assim Ela nos é apresentada como a Mulher da escuta da Palavra de Deus, do silencio e da oração. Eu ainda continuo perguntando: como a minha devoção mariana pode me ajudar a ser um verdadeiro discípulo de Cristo, exercendo o meu ministério ordenado na comunhão com meu bispo diocesano, com meus irmãos presbíteros, diáconos, leigos e religiosos na minha Igreja Particular?
            Na família do prado, nós aprendemos que “nosso primeiro trabalho é, pois, o de conhecer Jesus Cristo para, em seguida, ser totalmente dele” (VD 46).  Meditando o mistério da Encarnação no Natal de 1856, o Padre Antônio Chevrier ouviu o chamado de Deus para evangelizar os pobres. Em 1858, também na França, a Virgem Maria apareceu a pobre, analfabeta jovem Bernadete e anuncia uma grande verdade de fé: Eu sou a Imaculada Conceição, os teólogos da época custaram a acreditar neste fenômeno da piedade mariana.
            Estudando o evangelho, fazendo revisão de vida, nós procuramos crescer em nosso compromisso com Jesus Cristo e na vivencia fraterna em nossas equipes de base e com toda a Igreja. Quem busca conhecer Jesus Cristo, conhecerá também a Maria, sua virgem mãe. Quem busca ser discípulo verdadeiro encontra em Maria um modelo de seguimento e de escuta da Palavra. Em maio de 2007, em Aparecida SP, o Papa Bento XVI diz em seu discurso no final da reza do rosário: “Maria Santíssima, a Virgem pura de sem mancha, é para todos nós escola de fé destinada a nos conduzir e nos fortalecer no caminho que conduz ao encontro com o Criador do céu e da terra.... Permaneçam na escola de Maria”.
Somente entenderemos a fé de Maria no contexto da espera messiânica. Ela, sendo a Filha de Sião, mantinha a esperança no cumprimento das promessas de Deus em relação a seu povo. A Jovem de Nazaré conhecia a profecia e mantinha-se fiel aos mandamentos de Deus, por esse motivo foi saudada elo Anjo Gabriel com estas palavras: “alegre-se, cheia de graça! O Senhor está contigo!” (Lc 1,28). Sua prima Isabel, emocionada e cheia do Espírito Santo, grita em alta voz: “Bendita és tu entre as mulheres e Bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1,42).
Em seu magnificat, a jovem de Nazaré faz sua profissão de fé num Deus todo poderoso que fez grandes coisas em seu favor, que seu nome é santo e sua misericórdia se estende de geração em geração, a todos os que o respeitam. Neste hino, vemos que o Deus Altíssimo vem em socorro dos pobres e famintos, Maria acreditava nesta verdade
Nossa devoção deve sempre nos conduzir para Cristo, em Caná, Maria e Jesus eram convidados dos noivos, no entanto quem percebeu a falta de vinho foi Maria. Nossas comunidades devem valorizar a devoção mariana, buscando conhecer os textos bíblicos que falam da Virgem Maria, como discípula e missionaria. “Maria é a grande missionaria, continuadora da missão de seu Filho e formadora de missionários. Ela, da mesma forma como deu a luz o Salvador do mundo, trouxe o Evangelho à nossa América. No acontecimento em Guadalupe, presidiu, junto com o humilde João Diego, o Pentecostes que nos abriu os dons do Espírito. A partir desse momento, são incontáveis as comunidades que encontraram nela a inspiração mais próxima para aprenderem como ser discípulos e missionários de Jesus.” (DA 269). 
No presépio, encontramos o Menino Jesus e sua mãe, na grande Hora de Jesus, Maria está de pé ao lado da Cruz, quando por vontade de seu Divino Filho, se torna mãe do discípulo amado. No Sacrário, encontramos Jesus Sacramentado; alguns podem perguntar onde está Maria? Eu sempre percebo sua presença como a melhor catequista de nossa comunidade eclesial, dizendo aos servos: “façam tudo o que Ele vos disser” (João 2, 1-11). 
Como pradosianos, devemos sempre fazer o estudo do evangelho e como devotos de Maria, precisamos conhecer Jesus Cristo e anuncia-lo aos pobres. Saibamos unir nossa devoção mariana ao conhecimento dos textos bíblicos, acredito que assim, seremos bons catequistas para nosso povo que está sedento de fé em Jesus Cristo.
Nossa Senhora de Lourdes e Beato Chevrier roguem a Deus por nós!
Padre Ermindo Rapozo de Assis – Arquidiocese de Vitória ES






segunda-feira, 20 de março de 2017

São João Damasceno - Homilia Sobre a Dormição da Santíssima Mãe de Deus, a Bem Aventurada Virgem Maria

    Quem ama ardentemente alguma coisa costuma trazer seu nome nos lábios e nela pensar noite e dia. Não se me censure, pois, se pronuncio este terceiro panegírico da Mãe de meu Deus, como oferenda em honra de sua partida. Isso não será favor para ela mas servirá a mim mesmo e a vós, aqui presentes - divina e santa assembleia - como um manjar salutar que, nesta noite sagrada, satisfaça nosso gosto espiritual. Estamos sofrendo, como sabeis, de penúria de alimentos. Assim, improviso a refeição; se não é suntuosa nem digna daquilo que no-Ia inspira, possa ao menos acalmar-nos a fome. Sim, não é Maria que precisa de elogios, nós é que precisamos de sua glória. Um ser glorificado, que glória pode receber ainda? A fonte da luz, como será iluminada ainda?
É pois para nós mesmos que fazemos a coroa. "Vivo eu, diz o Senhor, e glorificarei os que me glorificam". (2Sm 2, 30)

      O vinho agrada sem dúvida, é deliciosa bebida, e o pão alimento nutritivo: um alegra, o outro fortifica o coração do homem (Sl 104, 15). Mas que existe de mais suave do que a Mãe de meu Deus? Ela cativou meu espírito, ela reina sobre minha palavra, dia e noite sua imagem me é presente. Mãe do Verbo, dá-me de que falar! Filha de mãe estéril, torna fecundas as almas estéreis! Eis aquela cuja festa celebramos hoje em sua santa e divina Assunção.

    Acorrei, pois, e subamos a montanha mística. Ultrapassando as imagens da vida presente e da matéria, penetrando na treva divina e incompreensível, ingressando na luz de Deus, celebremos o seu infinito poder. Aquele que, de sua transcendência super-essencial e imaterial, desceu ao seio virgíneo para ser concebido e se encarnar, sem deixar o seio do Pai; aquele que através da Paixão marchou voluntariamente para a morte, conquistando pela morte a imortalidade e voltando ao Pai; como não pôde ele atrair ao Pai sua Mãe segundo a carne? como não elevaria da terra ao céu aquela que fora um verdadeiro céu sobre a terra?
      Hoje a escada espiritual e viva, pela qual o Altíssimo desceu, se fez visível e conversou entre os homens (Baruc 3, 38), ei-la que sobe, pelos degraus da morte, da terra ao céu.
Hoje a mesa terrestre que, sem núpcias, trouxera o pão celeste da vida e a brasa da divindade, foi levada da terra aos céus, e para a Porta oriental, para a Porta de Deus, se ergueram as portas do céu.
       Hoje, da Jerusalém terrestre, a Cidade viva de Deus foi conduzida à Jerusalém do alto; aquela que concebera como seu primogênito e unigênito o Primogênito de te da criatura e o Unigênito do Pai, vem habitar na Igreja das primícias (Hb 12, 23); a arca do Senhor, viva e racional, é transportada ao repouso de seu Filho (Sl 132, 8).

      As portas do paraíso se abrem para acolher a terra portadora de Deus, onde germinou a árvore da vida eterna, redentora da desobediência de Eva e da morte infligida a Adão. É o Cristo, causa da vida universal, quem recebe a gruta escondida, a montanha não trabalhada, donde se destacou, sem intervenção humana, a pedra que enche a terra.
Aquela que foi o leito nupcial onde se deu a divina encarnação do Verbo, veio repousar em túmulo glorioso, como em tálamo nupcial, para de lá se elevar até a câmara das núpcias celestes, onde reina em plena luz com seu Filho e seu Deus, deixando-nos também como lugar de núpcias seu túmulo sobre a terra. Lugar de núpcias, esse túmulo? Sim, e o mais esplendoroso de todos, a refulgir não por revérberos de ouro, de prata ou de gemas, porém pela divina luz, irradiação de Espírito Santo. Proporciona, não uma união conjugal aos esposes da terra, mas a vida santa às almas que se prendem pelos laços do Espírito, proporciona uma condição junto de Deus, melhor e mais suave que outra qualquer.
      Seu túmulo é mais gracioso do que o Éden: neste, sem querermos repetir tudo o que lá se passou, houve a sedução do inimigo, sua mentira apresentada como conselho amigo, a fraqueza de Eva, sua credulidade, o engodo - doce e amargo - ao qual seu espírito se deixou prender e pelo qual em seguida aliciou o marido; a desobediência, a expulsão, a morte, mas - para não trazermos com tais lembranças assunto de tristeza à nossa festa - houve o túmulo que elevou ao céu o corpo de um mortal, ao contrário daquele primeiro jardim, que derrubou do céu nosso primeiro pai. Pois não foi ali que o homem, feito à imagem divina, ouviu a sentença: "tu és terra e em terra te hás de tornar"? (Gn 3, 19). O túmulo de Maria, mais precioso que o antigo tabernáculo, encerrou o candelabro espiritual e vivo, brilhante de divina luz, a mesa portadora de vida, que recebeu, não os pães da proposição, mas o pão celeste, não o fogo material mas o fogo imaterial da divindade. Esse túmulo é mais feliz que a arca mosaica, pois teve por partilha a verdade, já não as sombras e as figuras; acolheu a urna áurea do maná celeste, a mesa viva do Verbo encarnado por obra do Espírito Santo, dedo onipotente de Deus, Verbo subsistente; acolheu o altar dos perfumes, a brasa divina que aromatizou toda a Criação.
    Fujam, portanto os demônios, gemam os míseros Nestorianos - como outrora os egípcios - com seu chefe, o novo faraó, o cruel flagelo, o tirano, pois foram engolidos pelo abismo da blasfêmia. Nós, porém, salvos, que atravessamos a pé enxuto o mar da impiedade, cantemos à Mãe de Deus o canto do Êxodo. Miriam, que é a Igreja, tome nas mãos o tamborim e entoe o hino de festa; saiam as jovens do Israel espiritual com tamborins e coros (Ex 15, 20), exultando de alegria! Que os reis da terra, os juízes e os príncipes, os jovens e as virgens, os velhos e as crianças, celebrem a Mãe de Deus! Que reuniões e discursos de toda espécie, raças e povos na diversidade de suas línguas, componham um cântico novo! Que o ar ressoe de flautas e trombetas espirituais, inaugurando com brilho de fogos o dia da salvação! Alegrai-vos, ó céus, e vós, nuvens, fazei chover a alegria! Saltai, novilhos do rebanho eleito, apóstolos divinos que, como montanhas altas e sublimes, aspirais às mais altas contemplações; e vós, também, ó cordeiros de Deus, povo santo, filhos da Igreja, que pelo desejo vos alçais como colinas até as altas montanhas!
     Mas então? Morreu a fonte da vida, a Mãe de meu Senhor? Sim, era preciso que o ser formado da terra à terra voltasse, para dali subir ao céu, recebendo o dom da vida perfeita e pura a partir da terra, após ter-lhe entregue seu corpo. Era preciso que, como o ouro no crisol, a carne rejeitasse o peso da mortalidade e se tornasse, pela morte, incorruptível, pura, e assim ressuscitasse do túmulo.
    Começa hoje para Maria uma segunda existência, recebida daquele que a fez nascer para a primeira, como também ela mesma dera uma segunda existência - a vida corpórea - àquele, cuja primeira existência, a eterna, não teve começo no tempo, embora principiada no Pai como em sua divina causa.
   Alegra-te, Sião, montanha divina e santa, onde habitou a outra montanha divina, a montanha vivente, a nova Betel, ungida na pedra, a natureza humana ungida pela divindade. De ti, como de um jardim de oliveiras, e Filho se elevou às celestes alturas. Que uma nuvem se componha, universal e cósmica, e que as asas dos ventos tragam os apóstolos dos confins da terra até Sião! Quem são aqueles que, como nuvens e águias, voam para o corpo - fonte de toda ressurreição, a fim de cultuar a Mãe de Deus? Quem é a que sobe, na flor de sua alvura, toda bela, brilhante como o sol? Que cantem as cítaras do Espírito, isto é, as línguas dos apóstolos! Que ressoem os címbalos, isto é, os arautos eminentes da palavra de Deus! Que esse vaso de eleição, Hieroteu 2, santificado pelo Espírito Santo e pela união divina capacitado a sofrer as realidades divinas, seja arrebatado do corpo, e em transportes de fervor entoe seus hinos! Que todas as nações aplaudam e celebrem a Mãe de Deus! Que os anjos prestem culto ao corpo mortal!
      Filhas de Jerusalém, feitas cortejo da Rainha, e virgens suas companheiras, ide com ela até o Esposo, levai-a à direita do Senhor! Desce, ó Soberano, vem pagar à tua Mãe a dívida que ela merece por te haver nutrido! Abre tuas mãos divinas e acolhe a alma de tua mãe, tu que sobre a cruz entregaste o espírito às mãos do Pai! Dirige-lhe um suave apelo: vem, ó formosa, ó bem-amada, mais resplandecente pela virgindade do que o sol, tu me partilhaste teus bens, vem agora gozar junto de mim o que te pertence!
     Aproxima-te, ó Mãe, de teu Filhe, aproxima-te e participa do poder régio daquele que, nascido de ti, contigo viveu na pobreza! Ascende, ó Soberana, ascende! Já não vale a ordem dada a Moisés: "Sobe e morre..." (Dn 31, 48) Morre, sim, mas eleva-te pela própria morte! Entrega tua alma às mãos de teu Filho e devolve à terra o que é da terra, pois mesmo isso será carregado por ti. Erguei vossos olhos, Povo de Deus, alçai vosso olhar! Eis em Sião a arca do Senhor Deus dos exércitos, à qual vieram pessoalmente prestar assistência os apóstolos, tributando seu derradeiro culto ao corpo que foi princípio de vida e receptáculo de Deus. Imaterialmente e invisivelmente os anjos o cercam com respeito, como servidores da Mãe de seu Senhor. O próprio Senhor lá está onipresente, ele que tudo enche e abraça, que na verdade não está em lugar algum porque nele tudo está como na causa que tudo criou e tudo encerra.
     Eis a Virgem, filha de Adão e Mãe de Deus: por causa de Adão entrega seu corpo à terra, mas por causa de seu Filho eleva a alma aos tabernáculos celestes! Santificada seja a Cidade santa, que acolhe mais essa bênção eterna! Que os anjos precedam a passagem da divina morada e preparem seu túmulo, que o fulgor do Espírito a decore! Preparai aromas para embalsamar o corpo imaculado e repleto de delicioso perfume! Desça uma onda pura a fim de haurir a bênção da fonte imaculada da bênção! Alegre-se a terra de receber o corpo e exulte o espaço pela ascensão do espírito! Soprem as brisas, suaves como o orvalho e cheias de graça! Que toda a criação celebre a subida da Mãe de Deus: os grupos de jovens em sua alegria, a boca dos oradores em seus panegíricos, o coração dos sábios em suas dissertações sobre essa maravilha, os velhos de veneráveis cãs em suas contemplações. Que todas as criaturas se associem nessa homenagem, que ainda assim não seria suficiente. Todos, pois, deixemos em espírito este mundo com aquela que dele parte. Sim, todos, pelo fervor do coração, desçamos com a que desce à sepultura e ali nos coloquemos. Cantemos hinos sacros e nossas melodias se inspirem nas palavras: "Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo!" Permanece na alegria, tu que foste predestinada a ser Mãe de Deus. Permanece na alegria, tu que foste eleita antes dos séculos por um desígnio de Deus, germe divino da terra, habitação do fogo celeste, obra-prima do Espírito Santo, fonte de água viva, paraíso da árvore da vida, ramo vivo que portas o divino fruto, donde fluem o néctar e a ambrosia, rio de aromas do Espírito, terra produtora da divina espiga, rosa resplandecente da virgindade, donde emana o perfume da graça, lírio da veste real, ovelha que geras o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, instrumento de nossa salvação, superior às potências angélicas, serva e Mãe!
     Vinde, enfileiremo-nos em torno ao túmulo imaculado para dali sorvermos a divina graça! Vinde, abracemos em espírito o corpo virginal. Entremos no sepulcro e morramos nele, rejeitando as paixões da carne, vivendo uma vida sem concupiscência e sem mácula. Escutemos os hinos divinos, cantados imaterialmente pelos anjos. Entremos para adorar, aprendamos a conhecer o mistério inaudito: como esse corpo foi elevado às alturas, arrebatado ao céu, como a Virgem foi posta junto de seu Filho acima dos coros angélicos, de sorte que nada se interpusesse entre Mãe e Filho.
     Tal é, depois de outros dois, o terceiro discurso que compus acerca de tua partida, ó Mãe de Deus, em honra e amor da Trindade, cuja cooperadora foste, por benevolência do Pai e por virtude do Espírito, quando recebeste o Verbo sem princípio, a Sabedoria onipotente, a Força de Deus. Aceita, pois, minha boa vontade, maior do que minha capacidade, e dá-me a salvação, a libertação das paixões da alma, o alívio das doenças dos corpos, a salvação das dificuldades, a vida de paz, a luz do Espírito. Inflama nosso amor por teu Filho, regula nossa conduta sobre o que lhe apraz, a fim de que, na posse da bem-aventurança do alto, e vendo-te refulgir com a glória de teu Filho, façamos ressoar hinos sagrados, na eterna alegria, na assembleia dos que celebram, em festa digna do Espírito, aquele que por ti opera nossa salvação, o Cristo Filho de Deus e nosso Deus, a quem pertence a glória e o poder, com o Pai sem princípio e o Espírito Santo e vivificador, agora e sempre pelos séculos. Amém.


NOTAS:

1 - O autor passa a aludir aqui a tradição, segundo a qual Nossa Senhora, ao morrer em Jerusalém, teve à sua volta os apóstolos.
2. O autor pensa em Hieroteu, apresentado como mestre de Dionísio em seu livro "Os Nomes Divinos".
Gomes, Folch. "Antologia dos Santos Padres". Ed. Paulinas, 1979.


Fonte: disponível em http://www.ecclesia.com.br

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O PAPEL DE MARIA NA OBRA DE ARIANO SUASSUNA, “O Auto da Compadecida”


Este clássico da literatura brasileira apresenta para nós um impressionante enredo, ambientado na região nordeste do Brasil, seu principal personagem é João Grilo. Um homem simples, mas que a realidade sofrida dos nordestinos o fez ser esperto e muito inteligente. O grande momento da obra literária é o julgamento de João Grilo, após sua morte. No Tribunal Celeste, aparece o demônio como acusador dos pecadores, o grande juiz se manifesta com pele negra e é apresentado como Emanuel, Deus conosco, Jesus Cristo Rei do Universo. Por fim, atendendo ao apelo de João Grilo, aparece Maria Santíssima, a Compadecida Mãe de Jesus, como advogada de defesa.
Como advogada, a Virgem Maria obteve um ótimo desempenho, pois conseguiu aliviar a sentença de todos os pecadores: o padeiro e sua infiel esposa, o bispo ganancioso e o padre interesseiro, o cangaceiro assassino e o habilidoso João Grilo. Diante desta cena, podemos perguntar: isto é só imaginação do autor ou tem fundamento na Bíblia e na tradição da Igreja? De imediato, vem a memória a oração da Salve Rainha, quando rezamos: “eia, pois, advogada nossa”, bem como as invocações da Ladainha de Nossa Senhora, quando invocamos a Mãe de Jesus como “espelho de justiça”,  “ refugio dos pecadores”, “consoladora dos aflitos” e “auxilio dos cristãos”. Acredito que o talentoso Ariano Suassuna encontrou sua inspiração nestas conhecidas orações de nosso povo católico. Na Bíblia, encontramos o texto de João 2,1-11, quando a Mãe de Jesus intercede junto de seu Filho em beneficio de uma grande festa de casamento, as bodas de Caná. Quando leio esta passagem bíblica sinto o coração vibrar e junto com os discípulos de Jesus, renovo a minha fé no Filho de Deus.
Acredito que nossa confiança na intercessão de Maria junto a seu Divino Filho não diminui nossa é em Jesus Cristo, como cristãos devotos de Maria devemos sempre praticar os ensinamentos de Cristo, pois somente nossa fé nos justificará. No dicionário de mariologia, encontramos o verbete: “mediadora”, onde o teólogo Salvatore Meo fala que o Concilio Vaticano II preferi os títulos de Serva do Senhor, Filha de Sião, Mãe do Salvador, Sócio do Redentor, e a obra de Maria é expressa como: função materna para com os homens, maternidade na economia da graça, função subordinada. No mesmo verbete nos diz que: “o conceito pleno de da salvação humana inclui pelo menos três elementos fundamentais: libertação, promoção, comunhão... somente Cristo realiza a salvação humana nesta totalidade de significados”.
Existem muitos defensores do quinto dogma mariano, o da mediação de Maria Santíssima, contudo existem também teólogos que não concordam e acham desnecessário. Na Constituição Apostólica Lumen Gentium, encontramos o numero 62 com a seguinte afirmação: “nenhuma criatura jamais pode ser colocada no mesmo plano com o Verbo Encarnado e Redentor.” Assim sendo, nossa redenção é obra exclusiva de Jesus Cristo. Somente Ele nos resgatou do pecado, dando-nos uma vida nova. Nele somos novas criaturas, pelo batismo recebemos a adoção de filhos e filhas de Deus com a força do Espírito Santo para vencermos o pecado em nossa vida.
Pessoalmente, eu prefiro falar de intercessão da Mãe de Jesus, pois os termos: medianeira de todas as graças e co-redentora geram dificuldades de interpretação. Acredito que a declaração de um novo dogma mariano não acrescentaria muita coisa ao depositum fidei. Gosto mais de olhar para a Virgem Maria e vê nela a primeira discípula, alguém que está mais perto de nós como disse o personagem João Grilo da obra de Ariano Suassuna. Quanto mais falarmos de Maria como criatura humana e não uma semideusa nos ajudará a viver plenamente nossa verdadeira fé em Jesus Cristo. O papa emérito, Bento XVI disse em Aparecida: “Maria Santíssima é para nós escola de fé destinada a nos conduzir e nos fortalecer no caminho que conduz ao encontro com o Criador do ceu e da terra.” (DA 270).
Autor: Padre Ermindo Rapozo de Assis



segunda-feira, 23 de março de 2015

MULHER SERVIDORA



Iniciando a quinta semana da caminhada quaresmal, somos chamados a olhar especialmente para Maria, a mulher que o Pai escolheu para ser a mãe do Salvador. Como tal, ela não só gera o Filho, mas o acompanha em toda a sua trajetória vital, assumindo com Ele os momentos de alegria, mas, sobretudo os momentos de dor, como fazem as autênticas mães com seus filhos, num exemplo eloquente de serviço desinteressado.
Na Quaresma de 2015, pela Campanha da Fraternidade celebrada no Brasil, somos convidados a vivenciar a dimensão do serviço como resposta concreta à fé e à caridade, na preparação para a Páscoa da Ressurreição. “Eu vim para servir” é palavra de Cristo explícita no Evangelho (cf.Mc 10 ,45), apontando para atitudes amplas do que podemos fazer pelos outros, seja no campo individual, seja no comunitário seja ainda no campo social.
Nesta última semana da Quaresma, chamada Semana das Dores, temos oportunidade de olhar para a Virgem de Nazaré, como mulher forte, fiel e oferente, na qual o ideal de servir não é apenas um ato da generosidade humana, mas um verdadeiro compromisso que nasce da fé. De fato, a fé em Maria se traduz em servir, sabendo que assim pode cumprir a vontade do Pai. Disse ela ao Anjo quando foi anunciada: “Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim a tua palavra” (Lc 1, 38).
Falar de Maria como servidora, nos remete também ao Dia da Mulher, celebrado no dia oito de março, propondo reflexão sobre o valor e a dignidade do elemento feminino, seu papel inalienável na vida social, comunitário e familiar.
Em Maria encontra-se o olhar de Deus sobre a presença feminina, criatura sua, no mistério da salvação, obedecendo a mística do serviço, da forma proposta por Cristo. Na verdade Jesus indica o serviço como condição para se tomar parte no projeto de Deus que quer o mundo como uma família bem constituída, onde reine a paz, a felicidade e a coragem para enfrentar serenamente os problemas e as dores inevitáveis nas condições desta vida terrena, na estrada que leva ao Reino Definitivo, onde tudo é perfeito. Por este ideal de família é que Deus, ao enviar seu Filho ao mundo, não quis fazê-lo sem passar pela realidade doméstica, escolhendo uma mulher como porta principal de sua vinda, ao lado de um homem, José, que lhe garante a condição de esposa e a protege na condição de mãe, pois, sendo ele, homem justo, a livra de perigos impostos por interpretações legalistas numa sociedade com marcas machistas. Ambos estão imersos na fé inarredável de um Deus que em lugar de ser servido, quer pôr-se a servir à pessoa humana, usando de sua infinita misericórdia: “Eu vim para servir e não para ser servido” (Mc 10,45).
Em Maria, tudo se relaciona a Cristo, centro de sua vida e de sua missão. Portanto, antes mesmo que seu Filho pregasse aos discípulos o serviço como expressão concreta do amor a Deus e ao próximo, Maria, no início de sua gravidez, sai em longínqua viagem de Nazaré à cidade de Judá, para servir à sua prima Isabel que na velhice concebera um filho e com ela permanece três meses servindo-a (Cf. Lc 1, 39-56). Antes que Jesus se inclinasse diante de cada apóstolo para lavar-lhes os pés, Maria, numa relação delicada do amor materno, já lavara os pés de seu Filho quando criança, dele cuidando afetuosamente para servir ao plano salvífico de Deus em favor da humanidade.
Na ordem humana, podemos afirmar que foi no lar de Nazaré que Jesus vivenciou a lição do serviço, com José e Maria, servidores do Pai e o Espírito Santo.
Na Exortação Apostólica Marialis Cultus (02.02.1974), o Papa Paulo VI já recordava esse espírito de serviço presente na vida de Maria, sobretudo em relação à Igreja, família de Deus, onde ela é “como em qualquer lar doméstico, a figura de uma mulher, que, escondidamente e em espírito de serviço, vela pelo bem e benignamente protege, na sua caminhada em direção à Pátria, até que chegue o dia glorioso do Senhor”.
Entre Maria e Jesus há uma terna sintonia que vai se verificar de forma plena no mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Afirma Paulo VI no citado Documento: “Esta união da Mãe com o Filho na obra da Redenção (LG 57) alcança o ponto culminante no Calvário, onde Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha (Hb 9,14) e onde Maria esteve de pé, junto à cruz (cf.jo 19,25), ‘sofrendo profundamente com seu Unigênito e associando-se com ânimo maternal ao seu sacrifício, consentindo amorosamente na imolação da vítima que ela havia gerado’ (LG 58), e oferecendo-a também ela ao Eterno Pai.”
Afim de se celebrar bem a Semana Maior que culmina com a ressurreição do Senhor, a Páscoa, certamente a palavra de Santo Ambrósio em sua Exposição do evangelho secundo Lucas, nos ajudará: “Que em cada um de vós haja a alma de Maria para bendizer o Senhor; e em cada um de vós esteja o seu espírito, para exultar em Deus”.


Dom Gil Antônio Moreira Arcebispo de Juiz de Fora (MG)

 uma publicação do site da CNBB