segunda-feira, 23 de março de 2015

MULHER SERVIDORA



Iniciando a quinta semana da caminhada quaresmal, somos chamados a olhar especialmente para Maria, a mulher que o Pai escolheu para ser a mãe do Salvador. Como tal, ela não só gera o Filho, mas o acompanha em toda a sua trajetória vital, assumindo com Ele os momentos de alegria, mas, sobretudo os momentos de dor, como fazem as autênticas mães com seus filhos, num exemplo eloquente de serviço desinteressado.
Na Quaresma de 2015, pela Campanha da Fraternidade celebrada no Brasil, somos convidados a vivenciar a dimensão do serviço como resposta concreta à fé e à caridade, na preparação para a Páscoa da Ressurreição. “Eu vim para servir” é palavra de Cristo explícita no Evangelho (cf.Mc 10 ,45), apontando para atitudes amplas do que podemos fazer pelos outros, seja no campo individual, seja no comunitário seja ainda no campo social.
Nesta última semana da Quaresma, chamada Semana das Dores, temos oportunidade de olhar para a Virgem de Nazaré, como mulher forte, fiel e oferente, na qual o ideal de servir não é apenas um ato da generosidade humana, mas um verdadeiro compromisso que nasce da fé. De fato, a fé em Maria se traduz em servir, sabendo que assim pode cumprir a vontade do Pai. Disse ela ao Anjo quando foi anunciada: “Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim a tua palavra” (Lc 1, 38).
Falar de Maria como servidora, nos remete também ao Dia da Mulher, celebrado no dia oito de março, propondo reflexão sobre o valor e a dignidade do elemento feminino, seu papel inalienável na vida social, comunitário e familiar.
Em Maria encontra-se o olhar de Deus sobre a presença feminina, criatura sua, no mistério da salvação, obedecendo a mística do serviço, da forma proposta por Cristo. Na verdade Jesus indica o serviço como condição para se tomar parte no projeto de Deus que quer o mundo como uma família bem constituída, onde reine a paz, a felicidade e a coragem para enfrentar serenamente os problemas e as dores inevitáveis nas condições desta vida terrena, na estrada que leva ao Reino Definitivo, onde tudo é perfeito. Por este ideal de família é que Deus, ao enviar seu Filho ao mundo, não quis fazê-lo sem passar pela realidade doméstica, escolhendo uma mulher como porta principal de sua vinda, ao lado de um homem, José, que lhe garante a condição de esposa e a protege na condição de mãe, pois, sendo ele, homem justo, a livra de perigos impostos por interpretações legalistas numa sociedade com marcas machistas. Ambos estão imersos na fé inarredável de um Deus que em lugar de ser servido, quer pôr-se a servir à pessoa humana, usando de sua infinita misericórdia: “Eu vim para servir e não para ser servido” (Mc 10,45).
Em Maria, tudo se relaciona a Cristo, centro de sua vida e de sua missão. Portanto, antes mesmo que seu Filho pregasse aos discípulos o serviço como expressão concreta do amor a Deus e ao próximo, Maria, no início de sua gravidez, sai em longínqua viagem de Nazaré à cidade de Judá, para servir à sua prima Isabel que na velhice concebera um filho e com ela permanece três meses servindo-a (Cf. Lc 1, 39-56). Antes que Jesus se inclinasse diante de cada apóstolo para lavar-lhes os pés, Maria, numa relação delicada do amor materno, já lavara os pés de seu Filho quando criança, dele cuidando afetuosamente para servir ao plano salvífico de Deus em favor da humanidade.
Na ordem humana, podemos afirmar que foi no lar de Nazaré que Jesus vivenciou a lição do serviço, com José e Maria, servidores do Pai e o Espírito Santo.
Na Exortação Apostólica Marialis Cultus (02.02.1974), o Papa Paulo VI já recordava esse espírito de serviço presente na vida de Maria, sobretudo em relação à Igreja, família de Deus, onde ela é “como em qualquer lar doméstico, a figura de uma mulher, que, escondidamente e em espírito de serviço, vela pelo bem e benignamente protege, na sua caminhada em direção à Pátria, até que chegue o dia glorioso do Senhor”.
Entre Maria e Jesus há uma terna sintonia que vai se verificar de forma plena no mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Afirma Paulo VI no citado Documento: “Esta união da Mãe com o Filho na obra da Redenção (LG 57) alcança o ponto culminante no Calvário, onde Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha (Hb 9,14) e onde Maria esteve de pé, junto à cruz (cf.jo 19,25), ‘sofrendo profundamente com seu Unigênito e associando-se com ânimo maternal ao seu sacrifício, consentindo amorosamente na imolação da vítima que ela havia gerado’ (LG 58), e oferecendo-a também ela ao Eterno Pai.”
Afim de se celebrar bem a Semana Maior que culmina com a ressurreição do Senhor, a Páscoa, certamente a palavra de Santo Ambrósio em sua Exposição do evangelho secundo Lucas, nos ajudará: “Que em cada um de vós haja a alma de Maria para bendizer o Senhor; e em cada um de vós esteja o seu espírito, para exultar em Deus”.


Dom Gil Antônio Moreira Arcebispo de Juiz de Fora (MG)

 uma publicação do site da CNBB

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