Formas de oração vocal repetitiva uniram os cristãos desde
as primeiras comunidades. Elas “perseveravam na doutrina dos apóstolos, na vida
em comunidade, na fração do pão (eucaristia) e nas orações” (Atos, 2,42).
“Unidos de coração frequentavam todos os dias o Templo…” Atos 2, 46).
Das orações no Templo de Jerusalém constava a coleção dos
150 salmos bíblicos cantados ou rezados também pelos primeiros cristãos. E mais
tarde incorporados à liturgia oficial da Igreja no Oficio Divino, ou Breviário.
Os mosteiros cristãos copiavam os salmos, transcreviam a Bíblia e seus
comentários porque a vida monástica era centro de cultura bíblica, teológica e
literária. Mas, os que não eram alfabetizados recorriam à oração vocal pura e
simples. Decoravam o Pai-Nosso e passagens da Bíblia como a saudação do anjo a
Maria. Rezavam 150 vezes o Pai-Nosso e a Ave-Maria e o louvor à Santíssima
Trindade. Essa estrutura vocal repetitiva fez do rosário súplica e
contemplação. Começando com São Pio V, em 1569, os Papas aprovaram e
incentivaram com todo o carinho este modo de devoção mariana como o mais
excelente. O Papa Leão XIII designou o mês de outubro para rezá-lo em toda a
Igreja. Vem daí a festa de Nossa Senhora do Rosário. Pio XII cunhou a célebre
frase: no Rosário está a “síntese de todo o Evangelho, a comunicação do
mistério do Senhor, a prece da família”.
Paulo VI na Marialis Cultus (o culto a Maria), famoso
documento da Igreja, ensina que o rosário é prece profundamente cristológica
porque centrado do mistério da Encarnação. Repetir a Ave-Maria é louvor
incessante a Cristo. Contemplando os mistérios da salvação em comunhão com
Nossa Senhora somos conduzidos a reflexões práticas e estimulados à vida santa.
São João Paulo II, em 16 de outubro de 2002, acrescentou os
cinco mistérios luminosos aos tradicionais gozosos, dolorosos e gloriosos. Via
no rosário a oração da família e pela família, em prol da sua união. Rezar o
terço pelos filhos e mais ainda com os filhos transmite a eles os maiores valores
familiares e morais. Se não resolve todos os problemas, é uma ajuda espiritual
que não deve ser subestimada. Esse costume ainda sobrevive em muitos lares,
apesar da correria da vida moderna. Permanece a máxima: família que reza unida
continua unida!
Nota-se, nos últimos anos, uma revitalização do terço ou
rosário. Propagado por congregações religiosas, confrarias leigas, grupos de
oração, movimentos como a Mãe Rainha, Associação Nossa Senhora de Fátima,
Romarias etc., é hoje forma universal de oração do povo cristão.
No modo atual, a devoção mariana do rosário fomenta a
espiritualidade que une de modo tranquilo e não automático: a oração da voz, a
meditação da mente, a contemplação da alma nos mistérios da vinda de Jesus e do
papel de Maria quanto ao projeto de Deus em nos salvar.
Padre Antonio Clayton Sant’Anna, CSsR.
Diretor da Academia Marial de Aparecida
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